O que é API REST?

A comunicação entre sistemas distribuídos é um dos pilares da internet moderna. Para facilitar essa interação, surgiram padrões que permitem a troca de informações de maneira simples, padronizada e eficiente. Entre eles, o REST (Representational State Transfer) se destaca como o modelo arquitetural mais adotado no desenvolvimento de APIs, sendo a base de milhares de aplicações web e mobile que utilizamos diariamente.

Neste artigo, vamos explorar o que é uma API REST, sua origem, princípios fundamentais, funcionamento prático, vantagens, limitações e os cenários em que seu uso é mais indicado. Vamos começar?

1 – O que é uma API REST?

API REST é um estilo de arquitetura que define como sistemas diferentes podem se comunicar pela internet de forma simples e eficiente. A sigla API significa Application Programming Interface (Interface de Programação de Aplicações), enquanto REST vem de Representational State Transfer.

Na prática, uma API REST fornece um conjunto de regras que permite que aplicações troquem dados utilizando o protocolo HTTP, o mesmo usado na comunicação web.

Uma API REST é, fundamentalmente, um “intermediário” que processa solicitações de um cliente (como a de um aplicativo de celular ou um navegador) e devolve respostas de um servidor. Por exemplo, quando você acessa uma página de e-commerce e vê a lista de produtos, é provável que o seu navegador ou app tenha feito uma requisição a uma API REST para buscar esses dados de um servidor remoto.

1.1 – Como o REST surgiu

O conceito de REST foi apresentado em 2000 por Roy Fielding, em sua tese de doutorado, “Architectural Styles and the Design of Network-based Software Architectures”. Fielding participou ativamente do desenvolvimento do protocolo HTTP, e sua tese surgiu como uma forma de documentar os princípios por trás da World Wide Web, com o objetivo de propor um estilo de arquitetura que aproveitasse melhor esses padrões, tornando a comunicação entre sistemas mais escalável e eficiente.

Desde então, o modelo REST se consolidou como o padrão de mercado para a maioria das integrações modernas, permitindo integrar sistemas e criar aplicações escaláveis de forma rápida e padronizada, tanto para aplicações web quanto mobile.

Portanto, o REST não é uma tecnologia, mas um estilo arquitetural que descreve como as APIs devem se comportar. Seu objetivo principal era simplificar e padronizar a comunicação entre os sistemas distribuídos na internet.

2 – Os princípios da arquitetura REST

Para ser considerada uma “API RESTful”, ela precisa seguir alguns princípios básicos, que garantem sua eficiência, escalabilidade e facilidade de manutenção.

  • Cliente-Servidor: Essa é a arquitetura base das APIs REST. O cliente (quem faz a requisição) e o servidor (quem processa a requisição e retorna a resposta) são entidades separadas e independentes. Essa separação permite que cada um evolua de forma autônoma.
  • Sem estado (stateless): cada requisição do cliente para o servidor é independente das demais. Ela deve conter todas as informações necessárias para que o servidor a entenda e a processe, sem depender de informações de requisições anteriores. Isso elimina a necessidade de o servidor armazenar o “estado” da sessão, tornando a API mais escalável.
  • Cacheable (Com Cache): as respostas das requisições podem ser armazenadas em cache, tanto no cliente quanto em intermediários, como proxies. Isso melhora o desempenho da API, pois evita que o cliente precise fazer a mesma requisição múltiplas vezes.
  • Interface uniforme: a interface de comunicação entre cliente e servidor deve ser uniforme e consistente, facilitando a comunicação. Isso envolve o uso de padrões, como os verbos HTTP (GET, POST, PUT, DELETE) para indicar a ação desejada sobre um recurso.
  • Sistema em camadas: a arquitetura REST permite que você organize o sistema em camadas, como servidores, proxies e gateways. Uma requisição pode passar por várias camadas até chegar ao seu destino, sem que o cliente precise saber de todos esses detalhes.

Esses princípios tornam a arquitetura simples de entender e flexível para diferentes cenários.

3 – Como APIs REST funcionam na prática

As APIs REST se baseiam no conceito de recursos e na utilização dos verbos HTTP para manipular esses recursos.

Pense em um recurso como qualquer objeto que pode ser acessado e manipulado, como um usuário, um produto ou um pedido. Cada recurso possui uma URL (Uniform Resource Locator) única que o identifica. Por exemplo:

  • GET /usuarios → retorna a lista de usuários.
  • POST /usuarios → cria um novo usuário.
  • PUT /usuarios/1 → atualiza o usuário de ID 1.
  • DELETE /usuarios/1 → remove o usuário de ID 1.

Na prática, a comunicação acontece assim:

  • O cliente faz uma requisição: ele envia uma requisição HTTP para a URL do recurso desejado, utilizando um dos verbos HTTP para indicar a ação.
  • O servidor processa e responde: o servidor interpreta a requisição e retorna uma resposta contendo os dados solicitados e um código de status HTTP que indica se a requisição foi bem-sucedida ou não. As respostas geralmente são enviadas em formato JSON, por ser leve e de fácil leitura.

4 – Vantagens e limitações da arquitetura REST

A adoção do REST traz diversos benefícios para o desenvolvimento de sistemas:

  • Simplicidade e Facilidade de Uso: a arquitetura REST é intuitiva e baseada em padrões amplamente conhecidos, como o protocolo HTTP.
  • Escalabilidade: como é stateless, a API pode facilmente lidar com um grande volume de requisições, já que não precisa armazenar dados de sessão para cada cliente.
  • Flexibilidade: a arquitetura REST é independente de linguagens de programação ou plataformas, permitindo que o cliente e o servidor sejam construídos com tecnologias completamente diferentes.
  • Desempenho: a utilização de cache pode significativamente reduzir a latência e a carga do servidor.

Porém, apesar de suas muitas vantagens, as APIs REST possuem algumas limitações:

  • Excesso de Requisições: para buscar informações de múltiplos recursos, pode ser necessário que o cliente faça várias requisições, o que pode aumentar a latência da aplicação.
  • Sobrecarga de Dados: em muitos casos, uma requisição pode retornar mais dados do que o cliente realmente precisa, o que aumenta o tráfego de rede e o tempo de processamento. Nos casos que, o sistema necessita de comunicação em tempo real ou poussi operações muito específicas, bem como procura-se evitar o tráfego de dedos desnecessários, pode ser mais interessante adotar alternativas como o GraphQL.
  • Sem Suporte a Push Notifications: o REST é baseado no modelo de requisição/resposta, portanto, o servidor não pode enviar informações para o cliente de forma proativa.

5 – Quando usar essa arquitetura?

APIs REST são uma excelente escolha para a maioria dos serviços aplicativos do nosso cotidiano. Sua simplicidade e flexibilidade as tornam ideais para:

  • Páginas web e aplicativos móveis: a comunicação de uma aplicação com o backend através de um aplicativo de celular, tablet, notebook ou computador é a forma de uso mais comum das APIs REST.
  • Sistemas de integração: quando é preciso conectar diferentes sistemas, como um CRM e um sistema de e-commerce.
  • Desenvolvimento de Single Page Applications (SPAs): como React, Angular ou Vue.js, que dependem de uma API para buscar dados e renderizar a interface no lado do cliente.
  • Projetos de código aberto: a vasta documentação e a comunidade ativa tornam o REST a primeira escolha para o desenvolvimento de APIs públicas.

Em resumo, a arquitetura REST é um padrão robusto e testado que continua sendo a espinha dorsal de grande parte da comunicação na internet. Ela oferece uma maneira simples e eficiente de construir sistemas distribuídos, permitindo que a web continue evoluindo e se expandindo.

Conclusão

A arquitetura REST consolidou-se como a espinha dorsal da comunicação nas aplicações modernas, oferecendo simplicidade, escalabilidade e flexibilidade. Embora apresente algumas limitações — como excesso de requisições ou falta de suporte nativo a notificações em tempo real —, continua sendo a escolha mais prática para a maioria das integrações e aplicações web e mobile.

Em suma, compreender os princípios e o funcionamento do REST é essencial para qualquer desenvolvedor ou profissional de tecnologia que deseje criar sistemas distribuídos robustos e preparados para o crescimento da internet.


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Documentação de APIs

No cenário tecnológico atual, a integração de sistemas e a troca de informações entre diferentes plataformas são a espinha dorsal da inovação. E as APIs (Interfaces de Programação de Aplicações) se tornaram verdadeiras “pontes digitais”.

Fazendo essa função de ponte, de conector entre diferentes serviços, as APIs precisam ser bem projetadas e necessitam de um manual de instruções claro e acurado para serem utilizadas de forma eficaz e segura. É nesse ponto que entra a documentação de APIs, um componente muitas vezes subestimado, mas absolutamente crucial para o sucesso de qualquer projeto que envolva integração.

Neste artigo, vamos entender o que é uma documentação de APIs, quais seus benefícios, as melhores práticas para elaborar essa documentação e também conheceremos algumas ferramentas essenciais para nos auxiliar nessa empreitada. Vamos começar?

1- O que é documentação de APIs?

A documentação de APIs é formada por um conjunto de informações, instruções e exemplos que descrevem como usar e integrar uma API (Interface de Programação de Aplicações). A documentação é a bússola para o trabalho de desenvolvedores, permitindo que eles compreendam e utilizem a API de forma eficiente, minimizando erros e acelerando o processo de desenvolvimento.

Uma documentação de API robusta deve ser um recurso completo, incluindo:

  • Descrições de endpoints: detalhamento sobre os recursos da API, como as URIs disponíveis e seus respectivos métodos HTTP (GET, POST, PUT, DELETE).
  • Parâmetros e formatos de requisição: informações claras sobre os dados que a API espera receber em uma requisição, incluindo tipos, formatos e se são obrigatórios ou opcionais.
  • Formatos de resposta: detalhes sobre como a API responderá à requisição, incluindo tipos de dados e seus respectivos formatos (JSON, XML).
  • Códigos de erro: explicações claras sobre os códigos de erro que a API pode retornar e como interpretá-los, essencial para a depuração e tratamento de falhas.
  • Exemplos de uso: casos de uso práticos e exemplos de código em diferentes linguagens como Python, PHP e JavaScript, e também em ferramentas como cURL. Esses exemplos facilitarão a compreensão e integração da API.
  • Autenticação e segurança: orientações claras e detalhadas sobre como autenticar e proteger o acesso à API.
  • Limites de uso: informações sobre limites de taxas de solicitação, cotas e outras restrições pertinentes, prevenindo contra bloqueios inesperados.

1.1 – Por que a documentação de APIs é indispensável?

A importância da documentação de APIs vai muito além de um simples manual técnico. Ela é um fator decisivo para a sua adoção, escalabilidade e, em última instância, para o sucesso dessa API.

  • Facilita a integração de serviços: permite que desenvolvedores integrem a API aos seus projetos de forma mais rápida e fácil, reduzindo o “time to market” do projeto.
  • Redução de erros: ajuda a evitar erros de implementação ao fornecer informações claras e precisas, diminuindo a necessidade de suporte técnico.
  • Promove a reutilização: torna a API mais fácil de ser usada por outros desenvolvedores, tanto internos quanto externos, aumentando seu valor.
  • Melhora a experiência do usuário: fornece um guia completo e acessível para a API, tornando a interação mais intuitiva e agradável.
  • Impulsiona a inovação: ao facilitar a integração e o uso da API, a documentação ajuda a impulsionar o desenvolvimento de novos produtos e serviços, permitindo que os desenvolvedores foquem em criar, e não em decifrar.
  • Base para a Governança de APIs: uma documentação bem estruturada é a base para a governança de APIs, garantindo que elas sejam usadas de forma consistente e segura em toda a organização.

1.2 – O pesadelo da ausência de documentação

Imagine tentar montar um móvel complexo sem nenhum manual de instruções, apenas com as peças espalhadas e a vaga noção do que fazer. Essa é a realidade que muitos desenvolvedores enfrentam quando se deparam com APIs sem documentação ou com documentações incompletas e desatualizadas. O resultado?

  • Perda de tempo e produtividade: horas e dias gastos em tentativa e erro para entender como a API funciona.
  • Frustração e desistência: desenvolvedores abandonam projetos ou buscam alternativas por não conseguirem integrar a API.
  • Erros e vulnerabilidades: implementações incorretas podem levar a bugs, falhas de segurança e comportamentos inesperados do sistema.
  • Aumento nos custos de suporte: equipes de suporte sobrecarregadas com dúvidas básicas que poderiam ser sanadas com uma boa documentação.

2 – Boas práticas para documentação de API:

Criar uma documentação de API eficaz não é apenas listar informações; é um ato de design e comunicação. Algumas boas práticas são essenciais:

  • Clareza e concisão: utilize uma linguagem simples e direta, evitando termos técnicos desnecessários. Se o jargão for inevitável, explique-o.
  • Organização e estrutura intuitiva: divida a documentação em seções lógicas, utilize títulos e subtítulos claros, e incorpore um índice navegável para facilitar a busca por informações.
  • Atualização contínua: mantenha a documentação sempre atualizada com as mudanças na API.
  • Acessibilidade e consistência: certifique-se de que a documentação seja facilmente acessível para todos os desenvolvedores, internos ou externos, e que a linguagem e o estilo sejam consistentes em todas as seções.
  • Exemplos e tutoriais: forneça exemplos práticos de requisições e respostas e, se possível, crie tutoriais descrevendo o passo a passo para os casos de uso mais comuns.
  • Design amigável e interativo: uma interface de usuário limpa e interativa (como a capacidade de testar requisições diretamente da documentação) pode fazer uma enorme diferença na experiência do desenvolvedor.

3 – Ferramentas para documentação de API:

Até agora vimos que elaborar uma boa documentação para uma API não é uma tarefa simples. A boa notícia é que não é preciso construir a documentação do zero. Existem diversas ferramentas robustas que auxiliam na geração, gerenciamento e visualização da documentação de APIs, automatizando parte do processo e garantindo a consistência:

  • Swagger/OpenAPI: uma ferramenta popular e um padrão de mercado para definir e documentar APIs RESTful. Permite gerar documentação interativa e até mesmo código cliente/servidor a partir de uma especificação YAML ou JSON.
  • Postman: uma plataforma abrangente para testar, monitorar e documentar APIs. Suas coleções podem ser usadas para gerar documentação interativa e fácil de compartilhar.
  • Apidog: uma ferramenta completa que oferece recursos abrangentes para documentação, teste, design e gerenciamento de APIs, integrando várias etapas do ciclo de vida da API.
  • DocFX: uma ferramenta versátil de código aberto da Microsoft para gerar documentação de diferentes tipos, incluindo APIs .NET, com suporte a Markdown e capacidade de personalização.

Conclusão

Em resumo, a documentação de API não é um mero documento técnico, mas sim um componente crucial e um investimento estratégico para o sucesso de qualquer API.

A documentação é a ponte que conecta a sua API aos desenvolvedores e permite que eles criem soluções inovadoras. Ignorá-la é o mesmo que construir uma tecnologia revolucionária e esconder o manual de uso.

Portanto, ao desenvolver ou consumir APIs, lembre-se: uma documentação clara, completa e atualizada é a chave para a eficiência, colaboração e inovação no universo da tecnologia da informação.

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O que é GraphQL?

Na área de desenvolvimento de software, a comunicação entre aplicações front-end e serviços back-end é um tema essencial. Tradicionalmente, as APIs REST (Representational State Transfer) têm sido o padrão de mercado para essa interação. No entanto, uma alternativa poderosa tem ganhado cada vez mais destaque: o GraphQL.

Criado pelo Facebook em 2012 e liberado como código aberto em 2015, o GraphQL é uma linguagem de consulta que propõe uma abordagem diferente das APIs REST tradicionais, permitindo que o cliente especifique exatamente quais dados precisa obter, recebendo uma resposta estruturada e de acordo com essa especificação.

Neste artigo vamos conhecer o que é o GraphQL, como surgiu, quais suas principais características, entre outros temas. Vamos começar?

1. O que é GraphQL?

GraphQL é uma linguagem de consulta (query language) para APIs e um conjunto de ferramentas de tempo de execução (runtime) para executar essas consultas com base nos seus dados.

Ao invés de ter múltiplos endpoints REST, onde cada um retorna um conjunto fixo de dados, com o GraphQL você tem um único endpoint que permite ao cliente solicitar exatamente os dados que precisa. Isso simplifica a interação entre cliente e servidor, bem como evita a sobrecarga de rede.

Pense na seguinte analogia: em uma API REST, é como se você fosse a um restaurante e tivesse que pedir um prato “combo” que vem com hambúrguer, batata frita e refrigerante, mesmo que só queira o hambúrguer. Já com o GraphQL, você pode pedir apenas o hambúrguer, e o garçom (o servidor) vai te trazer somente isso. Isso evita o chamado “over-fetching” (buscar mais dados do que o necessário) e o “under-fetching” (buscar dados insuficientes, exigindo múltiplas requisições).

O GraphQL é composto, basicamente, por três partes principais:

  • Linguagem de Consulta: define como o cliente busca pelos dados.
  • Esquema (Schema): especifica quais tipos de dados estão disponíveis na API e como eles se relacionam.
  • Resolução (Resolvers): funções que atendem às consultas, buscando os dados no back-end.

1.1. Como o GraphQL surgiu?

O GraphQL foi desenvolvido pelo Facebook em 2012 e lançado publicamente em 2015. A necessidade surgiu da complexidade crescente de seus aplicativos (web, mobile, dispositivos IoT etc.), os quais precisavam de uma maneira mais eficiente de buscar dados em seus servidores. As APIs REST do Facebook estavam gerando problemas de desempenho e lentidão no desenvolvimento de novos recursos, pois as equipes de front-end e back-end precisavam coordenar cada mudança em vários endpoints.

A solução encontrada foi a criação de uma nova abordagem onde o front-end tivesse mais controle sobre a estrutura dos dados retornados. Isso permitiu que o Facebook criasse uma API unificada que alimentasse tanto seu aplicativo móvel quanto a versão web, reduzindo a necessidade de endpoints específicos para cada plataforma e otimizando a velocidade de desenvolvimento.

2 – Principais características do GraphQL

Para entender como o GraphQL funciona, é crucial conhecer alguns termos-chave:

  • Schema: o schema define as operações disponíveis (queries, mutations e subscriptions) e os tipos de dados que podem ser consultados (object types, scalar types, enums, interfaces, etc.). Essencialmente, o schema é um contrato entre o front-end e o back-end, especificando os tipos de dados, os campos disponíveis e as relações entre eles. Os schemas são escritos em uma Linguagem de Definição de Schema (SDL).
  • Queries: são operações de leitura de dados que o cliente executa. Nelas, o desenvolvedor define quais campos o cliente pode consultar, aninhando objetos conforme a necessidade daquela operação.
  • Mutations: são operações de escrita ou modificação de dados (criação, atualização e exclusão). São semelhantes às queries, porém voltadas para alteração de estado no servidor. Uma observação é que, ao contrário das queries, que podem ser executadas em paralelo, as mutations são executadas em série para garantir a integridade dos dados.
  • Resolvers: são funções do lado do servidor que resolvem uma query ou mutation e retornam os dados para cada campo do schema. Podem acessar bancos de dados, serviços externos ou qualquer outra fonte de informação. Importante ressaltar que cada campo no schema possui um resolver correspondente.
  • Subscriptions: mecanismo para notificações em tempo real, mantendo uma conexão WebSocket ou similar para enviar atualizações ao cliente.
  • Tipos Comuns: o GraphQL é fortemente tipado. Isso significa que todos os campos e tipos de dados no schema têm um tipo definido (como String, Int, Boolean, etc.). Essa tipagem forte garante que a aplicação seja mais robusta e que os erros sejam identificados mais cedo, durante o desenvolvimento.
    • Scalars: Int, Float, String, Boolean, ID.
    • Object Types: definem objetos com campos específicos.
    • Lists e Non-Null: definem coleções e campos obrigatórios, respectivamente.
    • Enums, Interfaces e Unions: permitem modelar estruturas mais complexas e polimorfas.

3 – As vantagens e desvantagens do GraphQL

Como toda tecnologia, o GraphQL também tem seus prós e contras, os quais precisam ser avaliados antes da sua adoção.

3.1 – Vantagens:

  • Eficiência e Desempenho: permite buscar exatamente o que é necessário, reduzindo a quantidade de dados transferidos e o número de requisições de rede. Dessa forma, o cliente recebe apenas os dados necessários, evitando overfetching e underfetching.
  • Desenvolvimento Ágil e Flexível: o front-end se torna mais independente do back-end. A equipe de front-end pode solicitar novos dados sem a necessidade da equipe do back-end criar ou modificar um novo endpoint. Isso acelera o processo de desenvolvimento.
  • Documentação e Tipagem Automática: o schema atua como uma documentação viva da API. Ferramentas como o GraphiQL (um ambiente de desenvolvimento para GraphQL) usam o schema para fornecer autocompletar e validação de consultas, facilitando a vida do desenvolvedor.
  • Uma única requisição: em muitas situações, o GraphQL permite que o cliente obtenha todos os dados que precisa em uma única requisição, evitando o problema de “cascata de requisições” comum em APIs REST.

3.2 – Desvantagens:

  • Complexidade e Curva de Aprendizagem: a curva de aprendizado inicial é maior, especialmente para desenvolvedores acostumados apenas com REST.
  • Cache: o cache é mais desafiador de implementar no GraphQL do que em APIs REST. A ausência de endpoints distintos dificulta o cache HTTP tradicional. No entanto, existem soluções e bibliotecas para lidar com isso.
  • Upload de Arquivos: o upload de arquivos binários pode ser mais complexo de lidar em GraphQL.
  • Monitoramento e Limitação de Taxa (Rate Limiting): a implementação de rate limiting e monitoramento em um único endpoint pode ser mais desafiadora do que em múltiplos endpoints REST. Assim, se faz necessário, criar lógicas de negócio mais sofisticadas para controlar o acesso.

4 – Exemplo prático

A seguir, para fins de um melhor entendimento, vamos ver um exemplo simples de implementação de GraphQL usando Node.js e Apollo Server.

4.1 – Configurando o ambiente

Para começar vamos criar uma pasta chamada graphql-books-api e executar os comandos abaixo via terminal em seu respectivo diretório:

npm init -y
npm pkg set type="module"
npm install apollo-server graphql
npm install --save-dev nodemon

Após executar esses comandos, será criada uma pasta chamada node_modules e dois arquivos: package.json e package-lock.json.

Em seu arquivo package.json, você precisará inserir as informações do script de desenvolvimento, no respectivo trecho de “scripts”:

{
  "name": "graphql-books-api",
  "version": "1.0.0",
  "description": "",
  "main": "index.js",
  "scripts": {
    "start": "node index.js",
    "dev": "nodemon index.js"
  },
  "keywords": [],
  "author": "",
  "license": "ISC",
  "type": "module",
  "dependencies": {
    "apollo-server": "^3.13.0",
    "graphql": "^16.11.0"
  },
  "devDependencies": {
    "nodemon": "^3.1.10"
  }
}

Pronto! Nosso ambiente Node.js já possui uma configuração básica para iniciar o desenvolvimento. Agora, vamos acrescentar duas pastas nessa estrutura (schema e resolvers) e três arquivos (schema.js, resolvers.js e index.js), chegando a esse resultado:

Diretório do projeto exemplo de GraphQL

4.2 – Criando nosso serviço GraphQL

Com o ambiente criado e configurado, vamos inserir os códigos JavaScript de cada um desse nossos arquivos e na sequência vamos executar o servidor e testar a API:

index.jsschema.jsresolvers.js

import { ApolloServer } from 'apollo-server';
import typeDefs from './schema/schema.js';
import resolvers from './resolvers/resolvers.js';

const server = new ApolloServer({ typeDefs, resolvers });

server.listen({ port: 4000 }).then(({ url }) => {
  console.log(`🚀 Server ready at ${url}`);
});

import { gql } from 'apollo-server';

const typeDefs = gql`
  type Book {
    id: ID!
    title: String!
    author: String!
  }

  type Query {
    books: [Book!]!
    book(id: ID!): Book
  }

  type Mutation {
    addBook(title: String!, author: String!): Book!
  }
`;

export default typeDefs;

const books = new Map();

// Dados iniciais (mock realizado para fins de teste)
books.set("1", { id: "1", title: "Clean Code", author: "Robert C. Martin" });
books.set("2", { id: "2", title: "1984", author: "George Orwell" });

const resolvers = {
  Query: {
    books: () => Array.from(books.values()),
    book: (_, { id }) => books.get(id),
  },
  Mutation: {
    addBook: (_, { title, author }) => {
      const id = String(books.size + 1);
      const newBook = { id, title, author };
      books.set(id, newBook);
      return newBook;
    },
  },
};

export default resolvers;

Após inserir os códigos, no terminal execute o comando abaixo para iniciar o servidor Node.js:

npm run dev

Se tudo estiver certo, você visualizará essa mensagem:

🚀 Server ready at http://localhost:4000/

Com o servidor iniciado, vamos testar nossa API. Abra o navegador e acesse http://localhost:4000. Na tela que vai carregar clique em “Query your server” e execute essa query de exemplo:

query {
  books {
    id
    title
    author
   }
}

O resultado dessa query será um arquivo em formato Json com os livros que fizemos mock em nossa API de GraphQL.

Vamos testar também um mutation para adicionarmos um livro:

mutation {
  addBook(title: "O Hobbit", author: "J.R.R. Tolkien") {
     id
     title
     author
   }
}

Você terá um retorno mostrando o registro inserido no seu mock. Se executar a query de consulta novamente, o novo livro registrado aparecerá no seu retorno.

A partir desse exemplo prático veja como é simples dar os seus primeiros passos com GraphQL usando Node.js e Apollo Server. A partir desse ponto, você pode explorar recursos mais avançados, integrar com bancos de dados reais e desenvolver APIs robustas para diferentes tipos de aplicações. E não se esqueça, o GraphQL não é compatível apenas com Node.js, você pode utilizá-lo com outras linguagens de sua preferência como PHP, Python e Java, entre outras.

Conclusão

O GraphQL surge como uma alternativa moderna e eficiente às APIs REST, oferecendo maior flexibilidade e controle sobre as requisições de dados feitas pelo cliente. Ao permitir que o front-end especifique exatamente o que precisa, ele elimina a necessidade de múltiplos endpoints, reduz o tráfego de dados e acelera o desenvolvimento de aplicações mais dinâmicas e escaláveis.

Apesar de exigir uma curva de aprendizado inicial maior e apresentar alguns desafios técnicos — como cache e upload de arquivos —, o GraphQL tem se mostrado uma poderosa ferramenta para quem busca criar APIs mais intuitivas, documentadas e alinhadas com as necessidades reais do cliente.

Seja você um desenvolvedor front-end buscando maior autonomia ou um desenvolvedor back-end em busca de soluções mais eficientes, vale a pena considerar o GraphQL como parte do seu stack de desenvolvimento.

Espero que este conteúdo seja útil em sua trajetória! Se você gostou do conteúdo, compartilhe com seus amigos e aproveite para conhecer mais sobre APIs e outros assuntos de tecnologia da informação aqui!